A internet veio encurtar a distância entre as marcas e o público-alvo. No entanto, não basta ter um website ou uma app, já que a concorrência online é enorme; é necessário criar elementos que distingam a oferta, convidando o consumidor a explorar as páginas até se sentir confortável para comprar. Ainda assim, nenhum destes elementos será eficaz se saltarmos o passo mais importante: localizar a loja online, ou seja, colocá-la no idioma que o nosso público entende.
Se o objetivo é vender para vários países, disponibilizar a loja online num só idioma não chega. Apesar de alguns consumidores falarem mais do que uma língua, estudos demonstram que poucos se sentem 100% seguros quando o website não está na sua língua materna. Nestes casos, só avançam se já conhecerem a marca, se tiverem a recomendação de alguém ou se não existir outra alternativa que ofereça o produto nas mesmas condições (preço, prazo de entrega, etc.). Caso contrário, desistem da compra e o motivo é simples: têm outra opção, que os faz sentir mais confortáveis.
Quando não entende a informação que lhe é apresentada, o potencial consumidor perde o interesse. Existem tantos conteúdos online que, em segundos, substituirá essa janela por um vídeo com gatinhos, esquecendo a interação anterior.
As sensações de conforto e de identificação devem ser experienciadas pelo cliente sempre que este se cruza com a marca. Mesmo sem intenção de compra, ao esbarrar num anúncio, o cliente deve usufruir do momento. Deve sentir-se curioso e ter vontade de ver ou clicar no anúncio e explorar todo o universo da marca.
Para que isto aconteça, são necessárias duas coisas fundamentais: o conteúdo alcançar o cliente; e o cliente conseguir entender, imediatamente, do que se trata. O primeiro ponto irá depender da sua estratégia de meios; o segundo irá depender da estratégia que escolher para localizar a sua loja online.
Mais do que traduzir, as marcas devem localizar os seus conteúdos. Conhecer, não só, a língua e as suas nuances locais, mas também a cultura e o perfil comportamental do público-alvo. Só assim conseguirão disponibilizar produtos pertinentes, criar campanhas impactantes e conquistar a preferência do consumidor.
Lembra-se do famoso diálogo de Pulp Fiction em que Jules, personagem interpretada por Samuel L. Jackson, explica que o McDonald’s teve de adaptar o nome do seu menu “Quarter-Pounder with cheese” para “Royale with cheese” (atualmente, Royal Cheese) em França, porque a população usa o sistema métrico e não sabia o que era um “quarter-pounder” (medida do sistema imperial utilizada nos EUA)?
A localização é precisamente isso, a adaptação de um produto ou conteúdo para um local ou mercado específico. Pode incluir: a conversão da moeda ou das unidades de medida (quilómetros vs. milhas, por exemplo); a adaptação dos tamanhos de roupa e calçado (o tamanho 38 no pronto a vestir feminino em Itália tem medidas diferentes do tamanho 38 em França, por exemplo); o ajuste de subtilezas relacionadas com tons e cores; entre outros.
Foi para isso que criou a sua loja online, certo? Então, comunicar no idioma do seu público-alvo é o primeiro passo. Só assim conseguirá alcançar mais pessoas, estabelecer uma ligação com elas e explicar-lhes, exatamente, para que serve o produto.
A localização das descrições dos produtos irá contribuir, também, para que a sua loja seja encontrada pelos motores de busca. Além de adaptar as descrições, será ainda conveniente localizar a moeda (se vai vender fora da Europa, não faz sentido manter os preços em euros), os meios de pagamento (o MB Way, por exemplo, só funciona em Portugal) e as opções de entrega. Poderão parecer pormenores, mas são estes pontos-chave que determinam se o consumidor avança com a compra ou abandona o carrinho.
Se quer mesmo ter sucesso num mercado específico, distancie-se da concorrência criando soluções originais e adaptadas à realidade local. Imagina quanto ganha a McDonald’s por ter introduzido o pastel de nata na sua gama de produtos disponíveis em Portugal?
A maior parte das grandes marcas tem os seus conteúdos traduzidos nos idiomas mais populares, mas não os localizam. Ora, não ter em conta as variações locais pode distanciar o consumidor, que sente que aquela comunicação não é para si.
A título de exemplo, o português é das línguas mais faladas a nível mundial, havendo mais população no Brasil do que em qualquer outro país lusófono. Se uma marca quiser vender em Portugal, mas optar por traduzir para a variante com mais falantes (neste caso, o Brasil), estará a cometer um grande erro.
A adaptação à legislação local é importante, sendo, em alguns países, obrigatória. Localize a sua loja online e evite incumprimentos que podem originar multas pesadas. No Quebeque, Canadá, por exemplo, os sites de e-commerce devem estar disponíveis tanto em inglês como em francês, com coimas a serem aplicadas às marcas que não cumprem o requisito.
Há quem pense que o inglês é a língua mais falada no mundo, mas não. É certo que o inglês acaba por ser a língua “franca” da internet, mas mesmo dentro deste idioma existem variações de acordo com o país de destino. Por exemplo, “football” é um desporto totalmente diferente para um norte-americano (o chamado “futebol americano” em português, semelhante ao râguebi) e para um britânico (igual ao nosso futebol). Assim, apostar em países que falam a mesma língua pode ser uma forma de reduzir custos na tradução e localização de conteúdos, desde que se façam as devidas adaptações. Caso contrário, ao comprar uma bola de “football”, o cliente britânico e o norte-americano esperarão produtos diferentes, acabando um deles insatisfeito.
A resposta à questão será, então, “depende”, pois a escolha dos idiomas deverá ser um reflexo do plano de negócio e da estratégia adotada. Se o seu objetivo, a curto-prazo, é ter uma presença global, comunicar só em inglês é claramente insuficiente. Se, por outro lado, prefere entrar num país de cada vez, o melhor será localizar a sua loja online por etapas.
Seja qual for a opção escolhida, é importante garantir que consegue sempre dar resposta ao mercado onde vai entrar, para não causar frustração aos clientes e não perder o retorno no investimento.