Há determinadas coisas que nunca esquecemos na nossa vida. Uma delas é a primeira vez que recebemos um livro, novo em folha… quando o abrimos pela primeira vez e sentimos aquele cheiro característico das suas folhas ainda intocadas… a história que ansiamos descobrir… deixarmo-nos envolver por cada palavra, cada significado, cada pensamento, um processo que nos faz crescer um pouco mais por dentro e por fora… é um mundo mágico.
O meu primeiro livro, recebi-o por correio quando tinha apenas 5 anos. Lembro-me de estar ansiosa à espera do carteiro na rua e, mal ele chegou, abri o embrulho com todo o cuidado e sentei-me no jardim a ler. Foi “paixão à primeira vista” e não consegui parar mais. Li todo o tipo de livros, desde infantis, romances, aventuras, suspense, livros técnicos, livros sobre temas específicos… Estes livros fizeram-me crescer e ser a pessoa que sou hoje. Por isso, nada como agradecer aos seus autores por toda a aprendizagem que me deram. E, como estamos a celebrar o Women in Translation Month (#WITMonth), fui convidada a enumerar algumas das autoras que me marcaram. Aceitei com todo o prazer.
Na literatura portuguesa, gostaria de destacar as mulheres que me fizeram sonhar e desafiar a vida com aventuras: Sophia de Mello Breyner Adresen, Maria Teresa Maia Gonzalez, Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães.
Ao nível da literatura internacional, destaco as escritoras dos primeiros livros que li: Louisa May Alcott, Condessa de Ségur, Anne Brontë e Charlotte Brontë, porque foram as histórias destas grandes senhoras que me fizeram apaixonar pela literatura e pelas palavras, ou melhor, os seus tradutores, porque os primeiros livros que li eram traduções destas escritoras.
Ao longo da minha vida, tive várias experiências com a literatura, tanto a nível nacional como internacional, tendo lido tanto originais como traduções. Nem sempre o tradutor consegue captar toda a essência e expressão de uma escritora e, desde cedo, comecei a perceber isso e a ganhar um grande carinho e respeito pela profissão de um tradutor. O tradutor tem a grande e importante responsabilidade de “transportar” uma história de uma língua, cultura e forma de pensar específicas para outra língua, outra cultura e outra forma de pensar específicas sem que o leitor consiga notar, sem alterar o sentido do texto original, sem alterar as “palavras (a identidade) da escritora”. Basicamente, o tradutor tem de ser invisível.
Até hoje, as escritoras que mais me marcaram foram a Isabel Allende e a Stephenie Meyer. Uma chilena, outra americana, ambas com um estilo literário muito “simples”, mas que conseguem colocar-nos dentro da história de uma forma única, onde acabamos por chorar, rir, dançar e até sofrer com as personagens.
Tanto com uma escritora como com a outra, comecei por ler a tradução do primeiro livro e depois comecei a ler os originais. Tendo em conta que foram os primeiros livros que li que me fizeram ser fã incondicional de ambas, acho que se pode dizer que os tradutores fizeram um bom trabalho. Assim, gostaria de agradecer e dar os parabéns à tradutora do livro “Crepúsculo”, Vera Falcão Martins, e ao tradutor do livro “A Casa dos Espíritos”, Carlos Martins Pereira, pelo bom trabalho que fizeram.
Infelizmente, ainda há muito por fazer. Assim como há muitas escritoras pelo mundo que não sabemos sequer que existem porque não temos informação ou tradução dos seus livros, também acontece o contrário. Há várias escritoras em Portugal que nunca foram traduzidas para outros idiomas e, assim, perde-se alguma riqueza…
Aquelas que bem conhecemos já tiveram tradução para espanhol ou inglês, mas e as que não são conhecidas? Se tivessem a oportunidade, será que não se tornariam, também elas, referências da literatura portuguesa? Dou como exemplo a escritora Lubélia Sousa, uma senhora de 77 anos, com o 4.º ano de escolaridade, que escreve poemas e histórias para crianças como ninguém. Sou fã e, como ela, haverá muitas mais que nunca tiveram a oportunidade de ser conhecidas ou traduzidas.